Ao extrairmos das crianças e da infância as indizíveis doçuras da vida, estamos, ingenuamente, extraindo de nós mesmos nossos intrínsecos valores, nossas mais belas e harmoniosas formas de nos colocarmos como a criança que fomos ou a criança que desejamos ter sido.
Memórias de um tempo das delicadezas são indeléveis rastros marcados no sorriso imediato que rasgamos em nossas expressões, nem sempre soltas, onde a infância e a criança nos dão rasteiras com suas autenticidades e profundezas, próprias delas.
Advém da infância e da criança a frouxidão da vida e para a vida, só a criança proporciona a interpretação exata, no aumentativo, da palavra mansa, criança é mansidão, é a reverberação da suavidade, da calma, da melódica canção da vida.
A inspiração de ternura que a criança emprega à humanidade é capaz de alterar toda exaltação, promover comoção, criança e infância são o conjunto e a representação da capacidade humana de construir o homem, o seu desdobramento,o seu aprimoramento ou o que deveria ser.
Todo estímulo e ensinamento remetido a uma criança, através de recursos técnico-científicos ou não, perpassam primeiramente pela voluntária e infinita possibilidade natural de doação própria da entusiasta e inocente habilidade infantil, contudo, todo o entorno pelo qual a criança é alojada nasce da história de seus educadores.
A memória nostálgica fixada na mente de uma pessoa relativa à memória da infância que ela teve ou desejou ter, registra o indivíduo "in natura" que um dia todos nós fomos e, através de nossas crianças internas, proporcionamos, via de regra, condições para nossas crianças, ao educarmo-nas para assim sê-lo.
Estão nos cantinhos de uma casa, atrás das cercas de uma escola, na farta grama de um parque, na areia que moldamos, nas poças d'água, na caixa de um brinquedo, no desejo de um biscoito, nas invencionices imaginárias que faz de uma lata um caminhão, de um pedacinho de pau um avião, de qualquer frasco um brinquedo, as memórias que acalantam nossas almas, que nos remetem ao melhor tempo... é do colo que aconchega, do arroz com o feijão, do bolo quente, do abraço do irmão que saímos fortalecidos da infância para as jornadas imprevisíveis do universo adulto.
O estímulo da mãe do poeta o fez cravar seus olhos no chão e na imensidão do mundo, onde ele versou, através das singelezas, grandiosas belezas que encantam o mundo, constroem e solidificam na mente e no coração o que as purezas e as simplicidades, e só elas, são capazes de transformar, o ser humano demasiadamente humano que encontra na poesia da vida, o sentido atemporal que torna a criança, através de sua infância, repleta de ser o homem que se completa.
Nas concepções e nas buscas lúdicas para a educação,a tecnologia, ainda que necessária, não faz morada permanente, está na criatividade e na mente infantil a receptividade para as levezas e alegrias, o terreno fértil para as fantasias, o criadouro da igualdade, o doar-se de todo o jeito, a receptividade, o doce da inocência, as maiores e as melhores humanidades, natas da infância, da maravilha de cada criança!
Raquel Anderson